Voz de Ricardo Moresi
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo
isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de
dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para
educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da
saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da
impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz,
minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha
esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem
para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos
maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no
escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai,
minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não
roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse
apontador não é seu, minha filha".
Ao invés disso, tanta
coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até hábeas corpus
preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual
minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que
só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha
e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais
honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser
boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não
importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu,
meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente
deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue
ser livre, ético e o escambau." Dirão: "É inútil, todo
o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de
Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo
mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!
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